Neurociência na escola: perspectivas para a educação do presente
Durante muito tempo os discursos no meio educacional tratavam do futuro. Quais seriam as novas tendências, o que haveria de novo na educação nas próximas décadas e quais ferramentas romperiam de vez com modelos educacionais ultrapassados.
Entretanto, uma solução bastante inovadora e promissora sempre esteve ao nosso lado e embaixo de nossos olhos: a neurociência.
Entende-se que os profissionais de diversas áreas, para bem executar suas tarefas e trabalhos tenham conhecimento e domínios mínimos para atuar. Como confiar em engenheiros que não saibam calcular ou até mesmo médicos especialistas que não entendam sobre os órgãos que tentam curar?
Dessa maneira, seria
questão de tempo para a neurociência adentrar a escola. Educadores orientam a aprendizagem. Dessa forma, faz sentido e é necessário que entendam minimamente como o processo de aprender funciona em termos biológicos. A neurociência associada à educação não se restringe, no entanto, aos fenômenos cerebrais relacionados à cognição, mas também a aspectos
emocionais e comportamentais como um todo.

Não há nada mais complexo do que ser o humano. Assim como uma sala de aula, e ousaria dizer, uma escola. São inúmeras as variáveis que tocam o processo de aprender. Quem trabalha com educação entende que um aluno em grau extremo de ansiedade não tem a mesma capacidade de aprendizagem de outros em diferente situação emocional. Isso porque níveis altos de estresse afetam diretamente a memória, dificultam a tomada de decisão dentre outras funções cognitivas e executivas.
Há pouco tempo atrás vivemos na pele o isolamento social causado pela pandemia, o que nos fez entender a importância da flexibilidade na escola. Avaliações foram revistas, programas para lidar com o socioemocional dos alunos foram intensificados e a abordagem para com os estudantes também mudou. Há muito que o modelo de aprendizagem por punição caiu em desuso. Todas essas mudanças foram necessárias e ocorreram não somente com base na prática mas também, e principalmente, com base em evidências.
A entrada da neurociência na escola vem descortinar um palco de possibilidades e melhorias justamente porque instrumentaliza os educadores e alunos com o conhecimento de base sobre como o cérebro funciona para aprender, para conviver, para ser resiliente e lidar com dificuldades. Todas as habilidades (dentre outras) que desejamos desenvolver em nossos estudantes.
Atualmente não cabe mais um modelo que busca resultados de excelência, mas que não provê as ferramentas mínimas necessárias para que se chegue lá. A neurociência tem as ferramentas. Não cabe mais o professor que impõe ritmos estressantes em suas aulas, gerando comportamentos de afastamento em seus alunos, porque sabemos que tais ações geram estados afetivos de motivação negativa. E isso é controlado pelo cérebro. Apenas mais um exemplo do rol de aplicações da neurociência que vão além da memorização e reprodução de fatos. Falamos hoje em habilidades e competências e é impossível avançar nessa construção sem entender os mecanismos cerebrais que a permeiam.
Sabemos que a construção do conhecimento depende de uma série de variáveis que vão muito além do simplesmente “estudar mais”, como por exemplo o nível de atenção dos alunos, a maneira como as instruções são passadas pelos professores e o estado emocional de ambos. A neurociência mostra que o grau de conexão cerebral entre alunos e professores, a chamada sincronia, é indicador de performance no aprender.
Longe de chegar com respostas prontas, a neurociência atua como aliada trazendo evidências que podem ser desmembradas em práticas mais eficazes. Como neurocientista e professora, acredito que a área de neurociência educacional não vem para jogar por terra o trabalho construído até então com base nas teorias pedagógicas ou mesmo nas práticas. Chega sim, como norteador de práticas embasadas em evidências concretas, e também aceitando o que está sendo construído agora e será validado em breve.
Em resumo, a aplicação da neurociência nas escolas é uma estratégia promissora para aprimorar o ensino e o aprendizado. Ela oferece uma abordagem baseada em evidências, que leva em consideração as peculiaridades dos alunos e proporciona um ambiente educacional mais acolhedor, eficiente e inovador. Ao unir a ciência do cérebro com a arte de ensinar, abre-se um vasto campo de possibilidades para transformar a educação e construir um futuro melhor para as próximas gerações.
Autora: Virgínia Chaves.

